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Rendas

A arte da criação e do encontro da alma

7 de junho de 2025

Texto de Claudia Lucia de Souza*

Os processos delicados da renda, com sua conformação, cor, textura e organização, refletem um olhar para o natural. Nada é apenas a criação do ser humano; é o divino atuando dentro das leis sutis da criação. Quando nos entregamos, abrimos o portão do belo jardim da criação. Nossas mãos, como instrumentos e pincéis da alma, trazem ilustrações que se fixam no mundo físico.

Mesmo quando o ser humano parece carecer de criatividade, a essência da cor integral da flor nos ensina que a alma pode fechar os portões para esse acesso. O jardineiro, ou eu, precisa conduzir a alma, acessando o que ela tem de mais precioso no inconsciente. Assim, o portão se abre e somos envolvidos pelo perfume das flores, o chão molhado, o som dos pássaros e a mansa chuva que toca a vida como música. A voz humana se torna secundária, e a sonoridade do ambiente traz calma. As cores alegram o coração, e assim, caminhamos, sentindo os pés no chão, experimentando a alegria.

Quando a alma se acalma e se distancia do mundo físico, abre o portão do seu belo jardim. Ao abrir os olhos, consegue fazer a sutil conexão entre seu maior eu e o mundo real. O encontro acontece em um processo de criação, onde o que estava esquecido renasce. O homem atua de forma plena, suas vontades e propósitos começam a fazer sentido através das rendas, do tricô, da aquarela e do crochê. Não há técnica, apenas expressão.

Esse alto reconhecimento de um acesso antes esquecido revela-se em um ciclo de aprendizado eterno. Devemos olhar e agradecer pelas oportunidades de atuar na vida de tantas pessoas, sentindo o potencial de ser jardineiro de Deus, levando nutrição anímica a outras almas. É emocionante pensar nessa forma sublime e genuína de ser.

Mesmo em atendimentos simples, o que acontece entre o eu e o outro é um encontro de almas, promovendo um alto desenvolvimento mútuo. Retiramos a rigidez do pensar e trazemos frescor, empatia, amor e entrega, contribuindo para o auxílio ao próximo. Essa reflexão surge da experiência única de fazer renda, onde o processo manual é grandioso e as mãos acionam o nosso cérebro, conectando pontos específicos.

Assim como a renda se forma, os pontos específicos se conectam, criando a beleza das cores. Nesse momento, desligamo-nos da aceleração mental e encontramos um espaço de presença. O coração bate, os pulmões se movimentam, e os pensamentos vagam para longe das preocupações. A renda é um tremor que se revela quando pegamos na linha, a textura macia do barbante e o cheiro do algodão trazem prazer. Um galho de laranjeira se transforma na base do macramê, e a dança dos nós se torna uma coreografia das mãos, culminando em uma bela obra que expressa as vivências profundas da alma.

Embora o esforço para estar equilibrado traga angústia, ansiedade e choro, a vida moderna exige muito de nós. Em meio a cobranças e responsabilidades, podemos nos sentir insignificantes. Pergunto: o que pensar, viver, amar e sorrir? Devemos admirar a vida, a natureza, os animais, o céu e o que se move ao nosso redor.

Às vezes, me pergunto onde está aquela jovem cheia de vigor, coragem e sonhos, que agora se fecha em um casulo de medo e insegurança. O cotidiano testa nossa sanidade mental, e a vida se torna um desafio. Vale a pena? Desejo voar, desprender-me do que a vida exige, apenas contemplando e conhecendo pessoas, dormindo sob as estrelas. É loucura ou sanidade?

Vivemos em um mundo que cada vez mais exige agilidade e competência, mas, ao mesmo tempo, nos faz sentir solidão. O que estamos fazendo aqui? Enquanto costurava com um grupo de companheiros, percebi que, em meio a tudo, gostaria de me fazer presente, ouvindo o doce canto dos pássaros e admirando a beleza do cajueiro.

As mãos que trabalham expressam sentimentos e percepções, trazendo calma à essência do que realmente somos. O trabalho manual é um remédio instantâneo para a alma, aliviando, acalmando e ressignificando traumas e comportamentos desequilibrados. É um convite ao autoconhecimento e à alegria de realizar.

Esse não é apenas um ato artístico, mas uma expressão da alma. À medida que caminhamos pela vida, buscamos novos caminhos, desprendendo-nos do que não faz sentido e seguindo a trilha do coração. Estou chegando ao fim de uma jornada de estudo e, com maestria, quero concluir aquilo que comecei trilhando um caminho de alto desenvolvimento para atuar genuinamente na vida de outras pessoas.

*Jardim da Alma*

No delicado toque da renda,

A vida se entrelaça e se expande,

Cor e textura em dança serena,

Um jardim de criações que se faz grande.

Mãos que desenham o que é divino, Pincéis da alma, em suave conexão, Quando o coração se abre, é o destino, Que floresce em cada em cada coração.

Perfume de flores, chão molhado, O canto dos pássaros, a chuva a tocar,

Em cada ponto, um mundo encantado, Onde a beleza do ser começa a brilhar.

O jardineiro, com paciência e amor, Nutre as plantas com sua essência, Emaranhados de vida, em pleno fervor, Desperta em nós a mais pura presença.

Em meio ao caos da vida moderna, Buscamos voar, deixar tudo para trás, Contemplar as estrelas, a paz eterna, E nos perder na dança que a alma traz.

Que cada nó no macramê da vida, Seja um laço de amor, uma conexão, Nos libertando da dor, da ferida,

E nos guiando em busca da recifiguinificção.

Oh, renda sutil, que acalma e traz luz, Remédio para a alma, um abraço caloroso, No entrelaçar de histórias, o ser se seduz,

E a arte de viver se torna uma forma de expressar o amor.

Assim seguimos, com mãos criativas, Despertando a vida em cada gesto,

O jardim da alma, em flores genuínas,

É a expressão do ser humano um ser divino.

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Claudia Lucia de Souza, pesquisadora em artes-manuais, narra um dos exercícios propostos no Módulo Nono da Pós-Graduação Artes-Manuais para Terapias.

Conheça: https://www.instagram.com/escolainfantilespacosofia/