Dar conta do mundo sem incomodar?

o silêncio é imposto ao corpo feminino desde a infância

Texto de Ana Magnani*

 

Enquanto estudava pensava sobre a vergonha que é para uma mulher dizer sobre o próprio corpo, sobre as dores que a assolam, desnudar publicamente suas marcas.

Como o silêncio é imposto ao corpo feminino desde a infância e a servidão é instruída como o único caminho provável.

Dar conta do mundo sem incomodar.

Desenhar a dor que habita esse corpo torna-se improvável, visto que ela é única e secreta e o corpo da mulher vulnerável a repreensões sociais.

Falar sobre as marcas, os desejos, as saudades que habitam esse corpo faz pouco sentido diante de um mundo que, a todo tempo, tenta desqualificá-lo, desintegrá-lo, torna-lo nada, só um pedaço de carne.

Mas o corpo se rebela e grita, estou vivo sou o que sou graças às marcas que carrego em mim, que dizem de uma trajetória de lutas pouco ou nada reconhecidas.

Um corpo marcado pleno em toda sua verdade.

Um corpo que não pede permissão a todo momento para viver e

desabafa seu silêncio escondido,

em lindos poemas de amor,

por si mesmo,

por si.

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*Ana Magnani é doutoranda em Educação na FCLAR - Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara. Em seu Ateliê desenvolve pesquisas sobre a temática da infância, da diversidade pesquisas sobre a temática das infâncias, diversidades com enfoque nas relações étnico-raciais e de gênero.