Carta à amiga que vai mal

de quando recebi uma carta triste

 

Recebi uma carta triste que dizia: "Estou muito mal de grana,muito infeliz com o fato de não estar trabalhando com o que me faz contente, ounão ter tido retorno dos lugares que mandei currículo, perdi meu seguro saúde, torci meus dois pés, quebrei meus óculos, minha máquina de costuraqueimou, mas estou aqui... olha só chorando para você, não entristeça, tá?! É só desabafo. Bem não estou mas vou indo... vai ver que tem que ser assim, ué..."  

Quefazer quando as coisas vão muito mal? Como viver afirmativamente diante noinfirmável? Como manter a coragem e a fé quando parece que o cotidiano foitransformado em uma tragédia? Quando nossas iniciativas não dão resultado e,dia após dia, vamos enfraquecendo e perdendo ainda mais a força e a coragem? Não sei responder,mas receber o carinho dos amigos é sempre um conforto. No entanto, para receber carinho, é preciso perder o orgulho e abrir-se.

 

Tem dia que preferiria não. Que nó! Um verdadeiro tsunami. Efetivamente,tem alguma coisa que posso fazer - no concreto - para você? Como podemoscomeçar a afrouxar essas linhas embaraçadas? Certeza temos uma: Passa! Já vivemos momentos bem piores, o que não elimina o terrível momento presente. Dá vontade de dormir e esperar passar. Já passei muito perrengue assim: desemprego, doença, desamor, todos os "des" em simultâneo. Ficava, inclusive, muito doente fisicamente. Já passei muito perrengue assim: desemprego, doença, desamor, todos os"des" em simultâneo. Ficava, inclusive, muito doente fisicamente. Aí,eu fazia um projeto super super minimalista. Me restringia ao meu bairro: gasto zero. Eliminava todo o "batalhar" e ficavaficava. Fazia tricô - muito, madrugadas de TV e tricô. Enquanto isso, dá-lhe orações, rezavade hora em hora, reclamando com a turma cerúlea de não estarem fazendo a parte deles. Dava queixa do céu. "Ô céu", dizia eu, "só faz isso e táfazendo mal? Cadê meu quinhão de alegria. Devolve já". E insistia, insistia. Enquanto isso, dá-lhe orações, rezava de hora em hora, reclamando com aturma cerúlea de não estarem fazendo a parte deles. Dava queixa do céu."Ô céu", dizia eu, "só faz isso e tá fazendo mal? Cadê meuquinhão de alegria. Devolve já". E insistia, insistia. Ficava lá debobeira, mergulhadona no nada, no não ter aonde ir, no não dá nada certo. Que dor. Ufa! Dói só de lembrar o acontecido. Até que -não sei como, nem quando, nem porque - passava. Passava!!! Passava tão surpreendentemente que, pensando depois, nem registrava como tinha passado. Incrível, né? Ficava lá de bobeira, mergulhadona no nada, no não ter aonde ir, no nãodá nada certo. Que dor. Ufa! Dói só de lembrar o acontecido. Até que - não sei como, nem quando, nem porque - passava. Passava!!! Passava tão surpreendentemente que, pensando depois, nem registravacomo tinha passado. Incrível, né? Oxalá, passe para você também. Passetão rápido e de uma forma tão espetacular que vocênem perceba como - de repente - a vida melhorou. Afinal, os problemas passarão e você passarinho... Enquanto isso, chá de nada com limão e oração-reclamação. Essa semana, escrevi esta carta a uma amiga que estava se sentindo muitomal. Além de se sentir, as coisas iam muito mal com ela também: trabalho,saúde, dinheiro, satisfação pessoal zero. Quando li seu desabafo, lembrei das tantas vezes em que tinha passadopor momentos assim. No entanto, sempre orgulhosa, nunca recebi o conforto dos amigos, pois não me abria e, quem se importava comigo não tinha chance de me ajudar.*

 

*Fragmentode crônica para o meu novo livro: “Por uma estética da vida viva” 

Produzimos conhecimento por uma estética da vida viva. Quem se afinar conosco, venha. Juntas somos mais fortes. E não importa o que te digam, amanhã, haverá mais de nós.  

Sou Nina Veiga e não desisto nunca!  

#nadainstagramáveis 

#ninaveigaatelierdeeducação