O poder de uma pergunta

como um dispositivo transformador de conhecimento e vida

Uma vez, quando ministrei a Oficina da Boneca Waldorf, na Escola Waldorf Francisco de Assis, percebi que uma das participantes apresentava uma interpretação corporal equivocada dos procedimentos sugeridos. Esse tipo de comportamento é típico de quem tem uma lateralidade cruzada, fenômeno que pode atrapalhar a pessoa em ações de concentração e entendimento. As oficinas de artes-manuais formam um dispositivo muito objetivo para a visualização de problemas de aprendizagem, tanto cognitivos quanto motores em suas diversas associações. Depois de muito observar, comentei com a aluna sobre o fato e recomendei que ela fizesse uma avaliação com um
profissional da área, normalmente, psicopedagogos, pedagogos curativos ou outros especialistas da área psi. Ações corriqueiras, aparentemente insignificantes, como costurar para o sentido inverso ou espelhar os comandos de uma técnica, podem ser sintomas de complicações cognitivas e/ou motores que, quase sempre, afetam também outras áreas da vida, inclusive relacionamentos
pessoais. Quando a oficina terminou, a aluna veio me perguntar se eu, como especialista em distúrbios de aprendizagem, não teria alguma oficina onde pudéssemos investigar mais objetivamente essa suspeita. Acolhi com interesse a pergunta de Olívia e disse que iria pensar. Pois foi então que criei a primeira série de oficinas de Fiação Terapêutica, nas quais eu indicava a adoção de um caderno de notas, apelidado por mim de “Caderno de Artífice”. Foi contemplando os cadernos das participantes da oficina que me surgiu a vontade de doutoramento, tendo como objeto de pesquisa os cadernos. Pois, tantos anos depois, eis que uma Tese como Caderno de Artífice se fez, outros cadernos se tornaram dispositivos em cursos e, agora, livro. Agenciamento de vida que nos
mostra o poder de uma pergunta.